Um dos motivos que levaram a Polícia Federal (PF) a abrir uma nova operação nesta sexta-feira, 13, contra o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), foi a saída de sua família do Brasil.
No último dia 30, os pais dele, Agnes Barbosa Cid e Mauro Lourena Cid, a mulher, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, e uma das filhas viajaram para Los Angeles, Estados Unidos. Eles não têm restrição para deixar o Brasil.
A PF investiga se o tenente-coronel planejou uma fuga. Os policiais federais fizeram buscas na manhã desta sexta na casa dele, em Brasília, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele também foi convocado para um novo depoimento nesta sexta.
Procurados pelo Estadão, os advogados Cezar Bitencourt, Vania Adorno Bitencourt e Jair Alves Pereira, que representam Mauro Cid, confirmaram a viagem.
A defesa afirma que a família foi comemorar a formatura do sobrinho mais velho e a festa de aniversário de 15 anos de outra sobrinha do coronel Mauro Lourena Cid. O irmão dele mora nos Estados Unidos desde 2002. A volta está prevista par o dia 20 de junho.
“Foram com agens de ida e volta. Eles não têm restrição para viajar. E o aporte supostamente requerido pelo Gilson Machado teria sido o português. Uma coisa não tem nada a ver com a outra”, afirma a defesa.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a prisão preventiva do tenente-coronel e do ex-ministro do Turismo Gilson Machado, suspeito de tentar ajudar Mauro Cid a fugir. Apenas o ex-ministro foi preso.
O procurador-geral da República Paulo Gonet afirma que Gilson Machado procurou o Consulado de Portugal no Recife, no dia 12 de maio, “com o propósito de obter a expedição de um aporte português em favor de Mauro César Barbosa Cid, para viabilizar sua saída do território nacional”. O documento não foi emitido.
Gonet considerou que há indícios dos crimes de favorecimento pessoal e obstrução de investigação.
Segundo o procurador-geral, a fuga teria sido articulada “tendo em vista a proximidade do encerramento da instrução processual” da ação penal da trama golpista, em que Mauro Cid é um dos réus.
“A informação reforça a hipótese criminal já delineada pela Procuradoria-Geral da República e evidencia a forte possibilidade de que Gilson Machado Guimarães Neto e Mauro César Barbosa Cid estejam buscando alternativas para viabilizar a saída de Mauro Cid do país, furtando-se à aplicação da lei penal”, escreveu o procurador-geral em manifestação sigilosa ao STF.
O pedido foi enviado na quinta-feira, 12, ao ministro Alexandre de Moraes. Gonet pediu “urgência”.
“Nesse contexto, a conclusão da fase instrutória da Ação Penal n. 2.668/DF, na qual Mauro César Barbosa Cid é réu colaborador, e a proximidade de sua finalização com análise de mérito, torna premente a adoção de medidas mais gravosas, voltadas à garantia da aplicação da lei penal”, justificou o PGR.
aporte português
Em fevereiro, o ministro do STF Alexandre de Moraes intimou Mauro Cid para esclarecer “por qual razão o colaborador solicitou aporte português”. A defesa nega que ele tenha solicitado o documento.
O tenente-coronel comunicou ao Supremo Tribunal Federal que deu entrada em um pedido de cidadania portuguesa, no dia 11 de janeiro de 2023, “única e exclusivamente pelo fato de que toda a sua família já possuía cidadania portuguesa”.
Em 2024, Cid conseguiu a carteira de identidade portuguesa. O documento é válido apenas em Portugal, mas não pode ser usado para cruzar fronteiras. Na mesma manifestação ao STF, os advogados ofereceram entregar a identidade portuguesa de Mauro Cid, caso o ministro Alexandre de Moraes considerasse necessário.
Delação
Os benefícios da delação do tenente-coronel podem ser cassados se ficar comprovado que ele mentiu ou que tentou obstruir a investigação e a “aplicação da lei penal”, situação em que uma tentativa de fuga se enquadra juridicamente.
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